top of page

Condições crônicas e saúde mental podem custar ao Brasil até 4,5% do PIB anual até 2050, alerta relatório da OPAS

  • Foto do escritor: FórumDCNTs
    FórumDCNTs
  • 17 de jul.
  • 4 min de leitura

A Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) divulgou em 15 de julho de 2025 o relatório “Uma grande tempestade no horizonte: a carga macroeconômica e de saúde das condições crônicas não transmissíveis e dos problemas de saúde mental na América do Sul”, que projeta um grande impacto econômico para os países sul-americanos causado pelas condições crônicas não transmissíveis (CCNTs) e transtornos de saúde mental. O documento destaca que, entre 2020 e 2050, a perda acumulada na América do Sul poderá ultrapassar US$ 7,3 trilhões — valor equivalente ao Produto Interno Bruto (PIB) anual de toda a América Latina e Caribe.

Gráfico: Divulgação
Gráfico: Divulgação

O Brasil é o país mais afetado, tanto em números absolutos quanto relativos, com perdas que podem chegar a US$ 3,7 trilhões no período de 30 anos, representando até 4,5% do PIB anual. Isso significa que, caso as CCNTs e os transtornos mentais fossem eliminados, o PIB brasileiro seria 4,5% maior a cada ano durante três décadas, um montante que supera o que o país gasta anualmente com educação e é aproximadamente quatro vezes maior que o custo com o serviço da dívida pública.


Além do Brasil, Argentina e Colômbia também estão entre os países com maiores perdas devido ao tamanho de suas populações e alta prevalência dessas condições, que incluem principalmente: condições cardiovasculares (a principal causa de mortalidade e maior responsável pela perda econômica no Brasil), câncer, diabetes, condições/doenças respiratórias crônicas e renais; transtornos mentais como depressão, ansiedade, alzheimer e outras demências.


O estudo usa o indicador AVAI (anos de vida ajustados por incapacidade) para medir o impacto das CCNTs e transtornos mentais na saúde da população. O Brasil, por sua grande população, lidera as perdas totais em AVAI, indicando o elevado número de pessoas afetadas e o impacto negativo na capacidade produtiva do país.

Gráfico: Divulgação
Gráfico: Divulgação

Quando os dados são ajustados pela população, países como Chile, Uruguai e Argentina apresentam maior custo médio per capita, devido ao maior PIB per capita e aos elevados gastos em saúde, que fazem com que cada morte ou condição evitada gere um benefício econômico mais significativo.


O relatório atribui o aumento dessas condições a uma combinação de fatores, entre eles: Envelhecimento populacional; Crescente exposição a fatores de risco evitáveis, como tabagismo, alimentação pouco saudável, sedentarismo, consumo excessivo de álcool e poluição do ar.


Desde 2000, os indicadores preocupam: obesidade adulta aumentou 67,5%, diabetes 53,6% e inatividade física 24,1% na Região das Américas. Atualmente, 67,5% dos adultos estão acima do peso — bem acima da média global de 43,5%. A região apresenta também os maiores níveis de inatividade física do mundo, com 35,6% da população adulta sedentária.


Apesar dos desafios, houve avanços: a mortalidade por condições cardiovasculares e câncer diminuiu graças a políticas de saúde pública. A iniciativa HEARTS, da OPAS, implementada em 33 países, já ajudou mais de 5,7 milhões de pessoas a controlar a hipertensão via atenção primária.


Os impactos econômicos e sociais das CCNTs e transtornos mentais exigem respostas imediatas e coordenadas. Embora sejam desafios complexos, já existem políticas e intervenções comprovadas que podem ser aplicadas para prevenir e controlar essas condições.


Entre as estratégias prioritárias estão:


  • Prevenção dos fatores de risco por meio do aumento de impostos sobre tabaco, álcool e bebidas açucaradas; proibição de publicidade; embalagens com advertências; campanhas educativas; e promoção de ambientes que incentivem alimentação saudável e atividade física.

  • Fortalecimento dos sistemas de saúde, especialmente da atenção primária, para ampliar o diagnóstico precoce, o tratamento e o acompanhamento das pessoas com CCNTs e transtornos mentais, garantindo acesso universal e qualidade nos serviços.

  • Investimento em tecnologias de saúde digital, como telemedicina e dispositivos vestíveis, para melhorar a prevenção, o monitoramento e a gestão dessas condições.

  • Promoção de ambientes favoráveis à saúde, com planejamento urbano que facilite a atividade física, segurança e acesso a espaços de lazer, além de políticas que garantam alimentação saudável em escolas, locais de trabalho e comunidades.

  • Fortalecimento institucional e governança, com capacitação técnica, cooperação multissetorial, apoio à comunidade e mecanismos eficazes de financiamento, incluindo a utilização de receitas provenientes de impostos sobre produtos nocivos para sustentar os programas de saúde pública.


A integração dessas ações com financiamento adequado pode reduzir significativamente a carga das CCNTs e dos transtornos mentais, promovendo saúde, bem-estar e crescimento econômico sustentável para o Brasil e a América do Sul. O diretor da OPAS, Jarbas Barbosa, reforça: “Uma alimentação saudável e exercícios físicos regulares são remédios contra as CCNTs. Podemos prevenir até 40% dos cânceres se reduzirmos tabagismo, melhorarmos a alimentação e incentivarmos estilos de vida ativos”.


O relatório também destaca a necessidade de fortalecer a atenção primária, ampliar o acesso a medicamentos e diagnósticos essenciais — especialmente via mecanismos como os Fundos Rotatórios da OPAS — e integrar os serviços de CCNTs e saúde mental. No Brasil, apenas 36% das pessoas com hipertensão conseguem manejá-la e 58% das pessoas com diabetes recebem tratamento eficaz, números que evidenciam lacunas importantes para o enfrentamento dessas condições.


A Quarta Reunião de Alto Nível sobre CCNT e Saúde Mental, marcada para setembro durante a Assembleia Geral das Nações Unidas, será essencial para renovar compromissos e mobilizar recursos para enfrentar esse desafio. A OPAS conclama governos, sociedade civil e setor privado a colocarem a saúde no centro das estratégias econômicas, promovendo políticas públicas integradas que enfrentem as CCNTs e promovam o bem-estar mental.


Comentários


bottom of page