Associação dos Distúrbios do Sono com Diabetes e Obesidade ganha destaque no Congresso Brasileiro de Diabetes
- FórumCCNTs

- há 17 horas
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A relação entre distúrbios do sono, diabetes e obesidade ganhou destaque no Congresso Brasileiro de Diabetes, promovido pela Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD), com a apresentação do Dr. Mark Barone, pesquisador, fundador e coordenador do FórumCCNTs. A palestra reuniu dados epidemiológicos, evidências clínicas e análises econômicas que reforçam a necessidade de integrar o sono às estratégias de atenção às condições crônicas não transmissíveis (CCNTs).

Entre os pontos apresentados, chamou atenção a estimativa de que cinco países da OCDE perdem, juntos, cerca de US$ 680 bilhões ao ano devido ao sono insuficiente, segundo análise da RAND Europe. O valor ilustra o peso econômico de uma condição frequentemente negligenciada em políticas públicas.
Dr. Barone destacou que os distúrbios do sono atingem dimensões globais, com 1.788 bilhão de pessoas afetadas. A prevalência é comparável ou superior à de outras CCNTs de alta incidência, como:
Distúrbios do Sono: 1.7 bilhão
Hipertensão: 1.4 bilhão
Condições de Saúde Mental: 1 bilhão
Obesidade: 1 bilhão
Diabetes: 830 milhões
DRC: 673,7 milhões
DCV: 612 milhões
A sobreposição entre essas condições é expressiva. Dados científicos apontam que 60% a 90% dos adultos com apneia do sono têm excesso de peso, e que um ganho de 10% de peso aumenta em seis vezes o risco de apneia do sono, além de elevar em 32% sua gravidade. Entre pessoas com diabetes tipo 2, estima-se que até 86% apresentem apneia obstrutiva do sono, enquanto cerca de 90% relatam queixas relacionadas ao sono. Já a curta duração do sono - menos de seis horas por noite - está associada a um aumento de 38% na obesidade.

Esses números reforçam o caráter bidirecional da relação entre distúrbios do sono e obesidade: o excesso de peso predispõe à apneia, enquanto o sono inadequado interfere no metabolismo e no controle do peso.
O tema também tem repercutido na mídia nacional. A nutricionista e defensora da causa da obesidade, Glenda Cardoso, participou recentemente do quadro Bem Estar no programa “É de Casa”, da TV Globo.

Durante a entrevista, Glenda relatou sua experiência com obesidade e os problemas relacionados ao sono enfrentados antes de seu grande processo de emagrecimento. Segundo ela, as condições se retroalimentam: ao tratar a obesidade, melhora-se o manejo de distúrbios do sono, que por sua vez contribuem para o controle do peso, um ciclo positivo que reforça a importância de abordagens integradas.
Em coluna publicada na Veja Saúde, o Dr. Mark Barone detalhou como o Brasil assumiu a liderança, na ONU, para garantir a inclusão inédita dos distúrbios do sono na nova Declaração Política Global sobre CCNTs. Na matéria, Barone destacou que o sono, historicamente ofuscado por fatores de risco mais conhecidos, finalmente passou a ocupar um lugar central nas discussões internacionais. Ele explicou como pesquisadores brasileiros, em articulação direta com o Ministério da Saúde, trabalharam para inserir o tema no documento que guiará políticas públicas de 195 países pelos próximos anos.
A coluna também apresentou evidências sobre o impacto global da apneia obstrutiva do sono e mencionou iniciativas inovadoras implementadas no Brasil, como o modelo de Araguari (MG), reforçando que o país tem despontado como referência em soluções de diagnóstico e cuidado reconhecidas até pela OMS
A relevância do sono para a saúde cardiometabólica tem sido reconhecida por instituições internacionais. A American Heart Association (AHA) incluiu a duração e a qualidade do sono em sua plataforma Life’s Essential 8, que recomenda sete a nove horas diárias para adultos.
No diabetes tipo 1, entre 30% e 50% das pessoas apresentam distúrbios do sono; já no diabetes tipo 2, além da alta prevalência de apneia obstrutiva do sono (24% a 86%), são comuns insônia e síndrome das pernas inquietas. Evidências mostram que pessoas com diabetes tipo 2 e síndrome das pernas inquietas têm maior probabilidade de desenvolver complicações vasculares e depressão.
Apesar da robustez das evidências, pesquisadores alertam que os distúrbios do sono permanecem sub-representados em estratégias globais de controle de CCNTs. Artigo publicado no BMJ (Ugliara Barone et al., 2023) defende sua inclusão nas metas do Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 3.4, que visa reduzir em um terço as mortes prematuras por CCNTs até 2030.
Protagonismo brasileiro: atuação do FórumCCNTs
O Brasil tem avançado de forma pioneira na integração de distúrbios do sono às diretrizes e políticas de saúde. O FórumCCNTs lidera ações desde 2023, articulando especialistas, gestores e legisladores:

Maio/2023 - Reunião com especialistas para mapear lacunas em políticas públicas.
Junho/2023 - Elaboração de Call-to-Action assinado por 27 organizações, enviado ao Ministério da Saúde.
Dezembro/2023 - Ministério reconhece a importância do tema e a necessidade de ações integradas.
Outubro/2023 - Lançamento de materiais educativos para profissionais e gestores.
Julho/2023 - Recomendações incorporadas ao Plano Nacional de Saúde 2024–2027.
Abril/2024 - Inclusão de recomendações sobre distúrbios do sono no PCDT de Diabetes Tipo 2.
Agosto/2025 - Inclusão de recomendações no PCDT de Hipertensão.
2024–2025 - Apoio à criação da Frente Parlamentar Mista de Saúde do Sono.
Setembro/2025 - Pela primeira vez, o tema aparece na declaração política da ONU sobre CCNTs.
Próximos passos
A partir das evidências científicas e da mobilização técnica recente, especialistas destacam a necessidade de:
Incluir o sono como prioridade em consultas cardiometabólicas;
Ampliar ferramentas de rastreamento e diagnóstico no SUS e no sistema privado;
Estruturar uma Política Nacional de Saúde do Sono.
A centralidade do sono para a prevenção e o manejo de CCNTs é cada vez mais evidente. O avanço de iniciativas nacionais e internacionais indica um novo momento para o tema, com potencial de transformar políticas, práticas clínicas e resultados em saúde na próxima década.



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